rente à memória

rente à memória
o meu livro

sexta-feira, 14 de maio de 2010

murmúrios

...Os cactos, camuflados nas traseiras das casas, verdes e grandes, amparam o cimento envelhecido e húmido que separa os quintais, sem horta, Desabrocham as suas folhas esguias e desenvoltas, cheias de picos de que brota o tempo: cheiram a tempo.
As gotas de chuva desfazem-se entre as pedras soltas marmóreas do chão, que rodeiam os cactos, encobrindo as suas raízes, protegendo-os e agarrando-os à terra, no espaço dedicado à abreviação dos passos. No céu, um avião passa e um pássaro voa, em sentidos contrários. No pátio, térreo, a roupa de um estendal estende a sua cor à passagem do vento, que abre os espaços bifurcados. Persuadidos, os caracóis sobem os azulejos de uma das paredes da casa, procurando os incertos raios de sol. Nos terrenos avistam-se canas, como hastes apontadas às estrelas, tremeluzindo entre as nuvens escuras da noite que se aproxima. A erva rasteira multiplica-se entre as giestas e as papoilas, que aclaram o verde.
Chove. E abrem-se as narinas à presença de erva molhada, dos campos regados e nutridos, espontaneamente.
É mês de Maio.

Um pequeno rosto assoma-se entre as grades de uma das janelas, de um rés-do-chão, tentando fragmentar as imagens do exterior. Percebe-se o rosto num dos quadrados das grades, desejando recuperar a paisagem dos vários quadros, de caixilhos de ferro forjado. O rosto ensaia-se por todos eles e vê-se que está perdido, dividido entre qual deles permanecer. Não consegue decidir e retira-se.
Na praia, as máquinas e os homens pararam. Esperam o seu fruto. Em desespero, esticam os seus narizes e querem cheirar a peixe ou a maçã.
As luzes alaranjadas, dos candeeiros, abordam as ruas amplas que vão ficando vazias,
dando a sensação de ter aumentado o espaço circundante.
As janelas das casas fecham-se.

O crepúsculo errante, num lugar silenciado.
Somente os murmúrios do tempo e do mar. Sempre.

terça-feira, 11 de maio de 2010

rente à memória

O meu primeiro livro de contos e uma novela, Rente à Memória, que elogia os afectos e as memórias de pele. Livro que reproduz os diversos caminhos como um todo, entre a essência de Ser e do Social. Para a vida.